AlquiMarias: Amor do hortelão (Galium aparine)

O amor do/de hortelão, também conhecido como agarra-saias, pegamaço, ou erva-peganhosa, e cleavers, goosegrass ou gripgrass em inglês, é uma planta silvestre, anual, invasora, da família das Rubiáceas e o seu nome científico é Galium aparine L. O nome científico deriva de uma palavra antiga Aparinê que significa “que agarra”. Esta planta era já conhecida dos antigos Gregos, pois Dióscorides explica como os pastores utilizavam os seus caules, atados em feixes, para clarificar o leite. Recomendava-a também contra o cansaço. Cresce por toda a Europa e América do Norte, assim como noutras regiões temperadas, incluindo a Austrália.

Foi chamada pelos gregos antigos de phillantropon, que significa “amor-de-homem”, por ela se agarrar às pessoas que caminhem por ela, por isso era comum dizer na época que a Galium aparine nutria um amor por humanos.

Descrição

A identificação do Amor-de-hortelão é simples, em parte devido aos pequenos pelos que crescem nos caules e nas folhas, que lhe dão o tal atrevimento de se querer agarrar a tudo que com ele se cruze.

Apresenta caule quadrangular, viloso nos nós e ramoso a partir da base, com espirais de folhas lanceoladas, cuja face superior está provida de pêlos gancheados, as pequenas flores brancas desenvolvem-se nas axilas das folhas e têm quatro pétalas, o fruto tuberoso mede cerca de 4mm e é gancheado e com pêlos, a raiz é delgada.

Cultivo

É uma planta que se desenvolve em habitats rurais, terrenos cultivados e incultos, na orla de vegetação ripícola, mas também em sebes, orlas de campos de cultivo, baldios, entulhos e outros locais perturbados. Em locais com alguma humidade e algo nitrificados. Planta ruderal e indiferente edáfica, com época de floração entre março e junho. Serve-se dos seus acúleos recurvados para se erguer, agarrando-se a tudo o que está próximo, sem no entanto danificar as outras plantas vizinhas, trepa por árvores e arbustos, cobrindo por vezes grandes extensões de matas e silvados, convém controlá-la um pouco nos nossos jardins, pois é extremamente invasora, sendo no entanto uma planta delicada, graciosa, macia e leve, com excelentes potenciais fitoterapêuticos.

Nutrição

O chá de amor-do-hortelão tem propriedades sudoríficas, adstringente, anti-espasmódico, anti-tumoral, diaforético, refrigerante, anti-diarreicas, diuréticas, fortificantes, anti-contractivas, anti-hemorrágicas, anti-inflamatórias, anti-piréticas e vulnerário. As substâncias activas que se encontram nas partes verdes da planta são: alcalóides, saponinas, ácidos orgânicos e um pouco da vitamina C. Contém iridóides (incluindo asperulósido), ácidos polifenólicos (ácido cafeico e ácido gálico), antraquinonas (só na raíz), cumarinas, glicosídeo, iridoides, flavonoides (luteolina) e taninos.

Utilização

Medicinalmente a erva-peganhosa é de grande interesse, tendo sido mencionada em registos que datam por volta de 1650, em manuscritos pela mão de Nicholas Culpeper, um célebre botânico, herbalista e médico Inglês que recomendava a erva-peganhosa como um tónico Primaveril, sendo para isso usadas plantas jovens e frescas numa espécie de papa fervida. Este tónico servia assim para limpar o sangue, fortalecer o fígado e preparar o corpo para a mudança de estação.

Hoje, sabe-se que esta poderosa planta actua sobretudo sob o sistema linfático, promovendo o fluxo da linfa enquanto limpa e purifica o corpo de materiais tóxicos resultantes dos processos metabólicos naturais do nosso corpo. Alguns autores contemporâneos comparam a erva-peganhosa a uma espécie de escovilhão para os vasos linfáticos, tal é a sua eficácia na limpeza deste sistema. É um excelente diurético, podendo ajudar a eliminar pedras no aparelho urinário e tratar infecções do mesmo, como por exemplo nos casos típicos de ardor associados com infecções urinárias comuns. Purifica o sangue e é um excelente desintoxicante do organismo, ajudando a eliminar as toxinas através da urina, tem sido utilizado nalguns casos de cancro linfático, nesses casos é mais eficaz tomá-la em forma de sumo em vez de chá, é ainda utilizado para arrefecer o corpo em casos de febre. Esta planta tão comum é ainda uma excelente opção para pessoas cujas glândulas tem tendência a inchar e inflamar, tais como as adenoides e amígdalas, assim como para as dores de ouvidos relacionadas com este tipo de inflamações.

As partes utilizadas para fins medicinais são a planta inteira fresca, procure sempre colher as partes mais jovens e tenras da planta antes do aparecimento das sementes. Depois pode usar a planta em sumos, em combinação com maçãs, aipo e limão. Pode também optar por usar a planta em batidos (certifique-se que fica bem triturado, e caso necessário passe por um coador). Se preferir cozinhar a planta, pode usá-la numa sopa de legumes, desde que seja passada com a varinha mágica. Em última instância pode optar por secar a planta em local seco e arejado. Desta forma terá sempre à mão o amor- de-hortelão para usar como chá ao longo do ano. Pode ainda ser triturado e congelado para usar em sopas ou sumos mais tarde.

Externamente pode ser utilizado em cataplasmas para cicatrizar e desinfectar feridas e ainda para estancar o sangue, útil no tratamento de vários problemas de pele como seborréia, eczema e psoríase.

Com os frutos, é possível confeccionar algo semelhante ao café e a raíz moída pode substituir a chicória, sendo ainda muito utilizada em tinturaria para a obtenção de um bonito corante vermelho.

Receitas

Chá de amor-do-hortelão

Uma colher de sopa da planta seca (duas, se utilizamos a planta fresca)

250 ml (um copo) de água

Ferver a água com as folhas e deixar tapado durante 15-20 minutos. Beber 125 ml de chá, 2-3 vezes por dia. O chá pode ser ainda utilizado para lavar o rosto e clarear a pele, no cabelo para combater a caspa, ou pode ainda ser utilizado como eficaz desodorizante.

Pesto d'Amor d'Hortelão

2 chávenas bem cheias de amor de hortelão [folhas e caule]

2 dentes de alho grandes

1/3 chávena de nozes ou semente de girassol

1/4 -1/2 chávena de azeite

1/8 chávena de levedura de cerveja

Sal a gosto

Misturar tudo com a máquina [deixar o azeite para o fim] e servir de imediato ou guardar em frasco de vidro no frigorífico tendo o cuidado de cobrir com azeite para se aguentar mais tempo. Também pode ser congelado.

Amor de Hortelao e Beringela no forno

650g de berinjela fatiada (rodelas)

150g de amor de hortelão

2 cebolas (fatiadas)

2 dentes de alho (picados)

2 colheres de sopa de ervas a gosto

1 lata de tomate

500ml de molho de queijo

2 tsps de purê de tomate

sal

Água

Corte a berinjela em fatias, unte levemente as fatias com óleo, grelhe-as por 2 minutos em fogo alto até murchar, virando ocasionalmente. Frite o amor de hortelão logo após a lavagem e reserve. Refogue a cebola e o alho até ficarem translúcidos, depois acrescente os tomates de lata, as ervas, uma pitada de sal e o purê de tomate. Mexa e cozinhe por 15 minutos. Entretanto, prepare o seu molho de queijo. Quando os dois molhos estiverem prontos, cubra um prato com o molho de tomate, berinjela, cutelo e molho de queijo e repita até que tudo se esgote, terminando com uma camada de molho de queijo por cima.

Leve ao forno a 180 graus e leve ao forno até ficar bem quente e borbulhar, cerca de 30 minutos.