Monday 1 March 2021

Tanchagem (Plantago)

A Tanchagem (Plantago) é um género botânico pertencente à família Plantaginaceae. Existem em Portugal três variedades principais de tanchagens, sendo todas elas medicinais: Tanchagem Maior ou Tanchagem Terrestre (Plantago major), Tanchagem Média e Tanchagem Menor de folha mais estreita e pontiaguda do que as outras (Plantago lanceolata). É ainda conhecida por corrijó, língua ou erva de ovelha, calracho, tanchagem das boticas, psílio, e erva pulgueira devido a forma, cor e tamanho das sementes cuja casca se assemelha a pulgas.


Era já conhecida e muito utilizada na antiguidade, Alexandre o Grande, designava-a Governante-dos-caminhos, devido à sua grande abundância nas beiras dos caminhos. O médico e historiador grego Dioscórides atribuía-lhe várias propriedades. Os anglo-saxões utilizavam-na como panaceia para curar inúmeras doenças e era por eles considerada uma das nove plantas sagradas. Na Índia é cultivada em grande escala para recolha das sementes muito utilizadas no tratamento de problemas intestinais. É ainda uma planta sagrada do Candomblé, uma religião afro-brasileira.


É nativa da Europa e acompanhou o explorador europeu ao redor do mundo, sendo possível encontrá-la na América do Norte, Sudoeste Asiático, Norte de África e Índia onde é cultivada.





Descrição

É uma planta herbácea vivaz sem caule ou talos ramificados e com talos florais que alcançam 30-50 cm de altura, tem um rizoma curto central do qual brotam raízes secundárias tênues de cor amarela. As folhas lanceoladas ou ovaladas, compridas e ligeiramente dentadas, estão dispostas numa roseta basal na base do talo, têm 7 nervuras longitudinais que se estreitam e continuam no pecíolo. A inflorescência terminal é uma espiga densa com flores muito pequenas de cor branca, malva ou purpúrea. A espiga é curta durante a floração e logo se alonga. O fruto é um pixídio com 4-16 sementes. Não tem cheiro e possui  sabor ligeiramente amargo.

Cultivo

Esta erva pode ser encontrada um pouco por todo o lado, daí ser considerada uma infestante, tal facto deve-se sobretudo às suas sementes se dispersarem facilmente, sendo muitas vezes transportadas pelos pássaros.Propaga-se com facilidade em lugares húmidos e com sol, como por exemplo: bermas, terrenos abandonados, hortas, jardins, canteiros, vasos e inclusivé meio urbano.

No Minho e Douro Litoral colhe-se a semente no final da Primavera, depois de seca na eira é trilhada e guardada para semear no Outono. Também comercializada por empresas de sementes. Muito usada na alimentação dos coelhos. O solo vai começar a ter mais cálcio com a presença dessas plantinhas por perto.

Nutrição

A tanchagem é composta em grande parte por mucilagem e ácidos gordos entre eles: ácido linoleico, oleico e palmítico. Contém ainda compostos biologicamente ativos tais como polissacarídeos, lipídeos, derivados do ácido caféico, flavonóides, glicosídeos iridóides e terpenóides. Também foram detectados alcalóides, alguns ácidos orgânicos. Para além destes tem como princípios ativos o tanino, a pectina, alguns glicosídeos, vitaminas A, E, K e a aucubina, responsável pela ação antimicrobiana, analgésica e anti-inflamatória da erva. Além disso, a tanchagem contém alantoína, que auxilia na regeneração da pele. As suas folhas são ricas em vitaminas e minerais como o cálcio e potássio. Tanto as folhas como as sementes são ligeiramente adstringentes e anti-inflamatórias.

Tem propriedades desintoxicantes, expectorantes, analgésicas, anti-microbianas, cicatrizantes, antipiréticas, antitússicas, anti-infecciosas, anti-hemorrágicas, anti-inflamatórias, diuréticas, depurativas, sedativas, tônicas, laxantes, adstringentes, hemostáticas, febrífugas, antibióticas, descongestionantes, fluidificantes, antissépticas, supurativas, desinfectantes  e emolientes confirmadas em pesquisas recentes. 




Utilização

A tanchagem tem sido utilizada desde os tempos antigos para tratar uma ampla gama de doenças, incluindo dores e inflamações de garganta, doenças e infecções respiratórias, tosse, aftas, amigdalite, faringite, laringite, gripes e resfriados. Age como bactericida sobre as vias respiratórias, em casos de infecções, destruindo microorganismos e limpando secreções. Sendo utilizada em decocções, xarope ou extrato fluido para tratar o catarro, e a bronquite asmática. Para aftas, abscessos, dor de garganta, dentes, problemas de voz e rouquidão, tabagismo, gengivite e inflamações na região bucal, fazer gargarejos ou bochechos com o chá das folhas, de três a quatro vezes ao dia. Para resfriados, gripes e melhorar a função hepática ou inflamação gastrointestinal, consumir de um a dois copos de chá das folhas ou umas gotas de tinturaria por dia. Para aliviar a febre, aplicar folhas frescas sobre a testa.


Existem ainda estudos que associam a planta ao tratamento de TPM, doenças neurológicas e problemas de visão, podendo-se preparar um colírio para conjuntivite e inflamação das pálpebras. Uma infusão de folhas pode ser utilizada para lavar olhos inflamados ou em compressas ou tampões dentro dos ouvidos para aliviar a dor e combater a inflamação. 



Como ajuda a cicatrizar e coagular o sangue, é amplamente utilizada para curar furúnculos, assim como no tratamento de cortes, feridas, queimaduras e picadas de insetos. Para tal, faça uma compressa de folhas de tanchagem maceradas sobre a área afetada, depois de lavá-la com o chá feito previamente com as folhas da planta. Pode ainda fazer e usar uma pomada que pode ser uma ótima alternativa de medicamento para os primeiros socorros tratando: cortes, picadas de insetos, alergias cutâneas, erupções de pele, urticárias,assaduras de fraldas, dos bebés, etc.


Auxilia também em casos de prisão de ventre, infecção urinária, diarreia, disenteria, cistite, azia, inflamação do útero e intestino, hemorróidas, perdas de urina, problemas do fígado e no tratamento do síndrome de cólon irritável, sendo eficaz ainda em dores renais, de estômago e digestivas, verminoses, úlceras e fístulas, fluxo menstrual abundante, fogachos, icterícia, tuberculose, câncer, estomatite, esplenite, pneumonia, hemofilia, estrangúria, epilepsia, elefantíase, hidropisia, problemas cardíacos e trombose, assim como em casos de retenção da urina, graças ao seu efeito diurético e para extrair excesso de fluído linfático, limpeza sanguínea e acidente vascular cerebral,. O efeito calmante e protector das cascas e sementes beneficia todo o aparelho gastro-intestinal podendo ser utilizado no tratamento de úlceras gástricas e duodenais e problemas digestivos de acidez. O líquido gelatinoso produzido quando o psílio é mergulhado em água tem a capacidade de absorver toxinas no intestino grosso. 


A sílica e os taninos presentes na sua composição são muito úteis no tratamento de varizes aplicado em forma de compressas. Estas podem ser aplicadas também sobre as articulações, aliviando dores reumáticas e ajudando a desinflamar. Pode ainda ser utilizada para tratamento de contusões e entorses. 

É ainda um fortificante dos vasos capilares e ajuda no combate a caspa assim como noutros problemas no couro cabeludo e auxilia em coisas mais específicas como antídoto para envenenamento por cogumelos amanita (α-amanitina), efeito hepatoprotetor contra danos causados pelo CCl4, como antiviral contra vírus da hepatite B ou no combate e neutralização dos efeitos causados por animais peçonhentos ou venenosos, tais como abelhas, escorpiões, aranhas e lagartos venenosos.





As flores da Tanchagem também são comestíveis e tem a particularidade de o seu sabor se assemelhar ao dos cogumelos, para serem utilizadas, devem ser colhidas frescas em floração e usadas num molho ou caldo ou desidratadas para uso a posteriori. Outra dica é colher, secar na sombra e triturar com sal [2 partes de flor para 1 de sal]. As sementes maduras [secas e castanhas] quando em contato com água, libertam uma mucilagem similar a da chia ou da linhaça, aquela gosminha, que inclusive é muito utilizada em receitas sem glúten. Os caules têm aplicação como emolientes, antitussígenos e estimulantes. As raízes são utilizadas para tratamento de diabetes, infecção urinária, úlceras gástricas, feridas, cânceres e em casos de menorragia. Por fim, a planta inteira é aplicada para tratamento de distúrbios hepáticos e estomacais, feridas e queimaduras, infecções na garganta, menorragia, dismenorréia, pressão alta, inflamação, inflamação uterina, dor de urina e de bexiga, infecção pelos vírus das hepatites A, B e C, como expectorante, anti alérgica e colerética e em úlceras da pele causadas por Leishmania.





Para macerar as folhas de tanchagem, utilize um pilão e um almofariz, as palmas das mãos ou para aumentar os princípios curativos da erva, pode optar por mastigar as folhas (que ao se misturem com a saliva, estimulam a libertação destas substâncias tão ambicionadas).


Quando as suas folhas estão  tenras podem ser utilizadas também na culinária e podem ser consumidas em fresco (saladas e wraps) ou quando estão mais velhas podem ser utilizadas cozinhas, em  sopas ou refogados. As folhas novas são mais suaves ao paladar mas, as folhas maduras, mais velhas, são mais ricas em fitoquímicos específicos.


Contra Indicações

Possíveis efeitos colaterais da tanchagem incluem sonolência, cólica intestinal e desidratação. Não é indicado para grávidas, lactantes e pessoas com problemas cardiovasculares. O pólen da tanchagem é um dos causadores da febre dos fenos.



Receitas

Chá de Tanchagem

Coloque de 3 a 4 gramas de folhas de tanchagem em 150 ml de água fervente. Deixe repousar por três minutos. Quando amornar, coe e beba até 3 xícaras por dia.


Pomada de Tanchagem

Lave e seque bem as folhas. Coloque-as num pote, com uma colher de sopa de óleo de coco. Em seguida, ponha o preparado em banho-maria até que o óleo derreta. Quando estiver pronto, retire as folhas e deixe a mistura em temperatura ambiente para solidificar. Se preferir, adicione um pouco de cera de abelha, para conferir cremosidade à pomada. Colha as folhas de tanchagem num dia seco e quente para que as folhas sequem bem depois de lavadas. Isso irá garantir que a pomada dure mais tempo, sem conservantes. Mas, guarde-a na geladeira, sempre.


Tintura de Tanchagem

  • 1 xícara de folhas de tanchagem lavadas e secas do excesso de umidade (picadas)

  • 1 litro de vodka ou conhaque

  • 1 frasco de vidro com tampa apertada


Coloque as folhas em uma jarra e despeje o álcool até cobri-las completamente. Utilize uma vareta de vidro para agitar bem a mistura. Coloque a tampa e coloque o frasco em um lugar escuro, dando-lhe uma boa sacudida a cada poucos dias. Depois de 6-8 semanas, decante o conteúdo em garrafas limpas e armazene em um local escuro.


A tintura de tanchagem em álcool a 100% poderá durar de dois a três anos sem perder sua potência. Este é um potente remédio para infecções diversas e problemas catarrais. Use de 10 a 15 gotas, pingue-as na língua (ou embaixo desta) e mantenha-as na boca, por 30 segundos, antes de engolir. Para uso externo, pingue diretamente sobre o local infectado.


Chips de Tanchagem

  • 30 folhas grandes de qualquer espécie de tansagem 

  • 2 colheres (chá) de azeite

  • 1/4 colher (chá) de sal

  • 1/2 colher (chá) de pimenta

  • 1 colher (sopa) de sementes de sésamo

  • 1  colher (chá) de açúcar 


Pré-aqueça o forno a 150 ºC. Lave as folhas e seque-as com pano limpo e seco. Em seguida, misture as folhas com o tempero numa tigela grande. Espalhe as folhas duma só vez em assadeiras e deixe assar até as folhas ficarem crocantes, mas não queimadas, de 10 a 20 minutos, dependendo do tamanho das folhas.   Tire do forno, espere um pouco e prove. Se ainda não estiverem crocantes, leve ao forno novamente por cerca de um minuto. Quando estiverem completamente frias, guarde as folhas em recipiente que feche hermeticamente. Assim, podem ser conservadas por várias semanas. Sirva como aperitivo ou use como tempero - esfarelando sobre o arroz, por exemplo. 


Risoto de Tanchagem e Cenoura

  • 1 cebola média picada em cubos bem pequenos

  • 1 colher de manteiga

  • 1/2 xícara de arroz de risoto

  • 1/3 xícara de vinho branco seco

  • 2-3 pés de tanchagem

  • 1  ou 2 cenouras em cubos pequenos

  • Lascas de queijo parmesão


Comece aquecendo um caneco com água em uma das bocas do fogão. Se você tiver algumas folhas de alho francês (a parte de cima do bulbo, que geralmente descartamos), ou caldo de legumes caseiro coloque nesta água. Caso não tenha, não se preocupe, a água sózinha é suficiente para fazer o prato. A água precisa estar fervendo para colocarmos no risoto; Noutra panela, refogue a cebola na manteiga em fogo baixo até que o fundo da panela comece a ficar com um agarradinho escuro; Coloque o arroz, deixe torrar por 1 minuto enquanto mexe, e jogue o vinho branco para soltar o fundo da panela; Assim que o vinho secar, coloque as cenouras e comece a colocar sobre o arroz a água que você deixou ferver. Não despeje tudo. Coloque um pouco até o arroz ficar envolto em água, mexa, cozinhe por mais alguns minutos esperando que ela evapore, e em seguida coloque mais um pouquinho. Essa operação vai precisar ser repetida de 3 a 4 vezes até que o risoto fique pronto; Depois de colocar a terceira água, ou quando o arroz estiver mudando de cor de translúcido para branco e quase ficando al dente, coloque as folhas de tansagem; Acerte o sal, desligue o fogo e jogue as lascas de queijo parmesão por cima. É desejável que não se seque muito o risoto, e que ele fique bem molhadinho.



Fontes:

https://flora-on.pt/index.php#/7EaTO

https://www.tuasaude.com/tanchagem/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Plantago_lanceolata

https://www.ecycle.com.br/8774-tanchagem.html

https://acientistaagricola.pt/tanchagem-planta-que-cura/

https://www.saintvinsaint.com.br/en/2018/09/tanchagem/

https://revistajardins.pt/tachagem-planta-amiga-pulmoes/

https://outracozinha.com.br/2018/06/29/risoto-de-tansagem-com-cenoura/

http://www.matosdecomer.com.br/2014/09/flores-com-gosto-de-cogumelo-e-que.html

https://paladar.estadao.com.br/noticias/receita,chips-de-folha-de-tansagem,70002542306

https://www.greenme.com.br/consumir/usos-beneficios/64566-tanchagem-a-melhor-erva-curandeira-do-planeta-veja-todos-os-usos/


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